Queres mudar de hábitos, reduzir o desperdício, e não sabes como? As Ecotips para totós by Hashtag Dondoca visam ajudar a isso mesmo. Nesta série tentarei converter a minha experiência, leituras, conhecimento, tentativas-erro e cabeçadas na parede em soluções práticas para quem quer, tal como eu, caminhar em direção a uma vida com menos lixo.

Recordo-me de ser miúda e me ensinarem a regra dos 3 R’s: reduzir, reutilizar e reciclar. E durante muito tempo estes preceitos foram o suficiente para conseguir equilibrar a produção de resíduos. Todavia, a evolução dos tempos ditaram uma nova filosofia que melhor se adapta às atuais necessidades: recusar, reduzir, reutilizar (e reparar), reciclar e “rot” (decompor, em português).

É Bea Johnson (https://zerowastehome.com/) quem propõe esta pirâmide de ações, que quando postas em prática, por ordem, ajudam a diminuir o desperdício e a ter uma vida mais consciente e significativa.

Conhecidos os termos, vamos desdobrar estas ideias compreender o que acarreta cada uma.

Os 5 R’s

  1. Recusa (o que não precisas)
  2. Reduz (o que precisas)
  3. Reutiliza e repara (o que tens)
  4. Recicla (o que não consegues recusar)
  5. Decompõe (“Rot”) (o restante)

 

  1. Recusa

O ponto de partida é dispensar aquilo que não precisamos. Desde produtos frescos envoltos em plástico, a brindes e folhetos publicitários, artigos descartáveis para consumo diário, como garrafas plásticas e copos de café, entre outros.

Recusa a compra de produtos baratos e pouco confiáveis, pois também vão acabar por custar mais a longo prazo, já que se estragam facilmente e obrigam a constante substituição.

 

  1. Reduz

Diminui o teu consumo. Analisa o teu guarda-roupa e verifica aquilo que realmente utilizas. E o calçado? Aposto que tens uma data de artigos que podes vender ou doar. Precisas mesmo de uma garrafa de água de plástico, todos os dias, para levar para o trabalho/escola? Repensa o teu uso de artigos descartáveis, de uso único. E os cremes, champôs e detergentes que usas? É porque precisas, ou porque caíste uma vez mais nas malhas do marketing?

Não é fácil fugir do consumismo, com tanta exposição que temos à publicidade e sob a alçada de um ritmo de vida capitalista, mas aposto que se parares e avaliares bem o que tens em volta, descobrirás onde reduzir.

 

  1. Reutiliza (e repara)

Opta por artigos no teu dia-a-dia que possas usar vezes e vezes sem conta, como garrafas de água, guardanapos e lenços de assoar de pano, lâminas depilatórias não descartáveis, entre outros.

Para além disso, podes sempre analisar os itens que tens ao teu redor e dar-lhes novo uso, como um frasco de feijão que agora serve para guardar outras leguminosas secas, ou então uma garrafa de polpa de tomate que é a tua nova garrafa de água. Até mesmo embrulhar presentes com jornal ou folhetos de supermercado. No fundo, é pensar “on a budget”, que é como quem diz, “com poucos trocos”.

Ainda neste ponto, temos o preceito de reparar, ou arranjar os artigos que já temos. Se conseguires, arranja tu, se não, procura quem consiga! Esta máxima serve para roupa, calçado, aparelhos electrónicos, entre outros.

 

  1. Recicla

Se não consegues mesmo dispensar a embalagem, recicla-a! Procura comprar produtos cuja embalagem é facilmente reciclável e que te indique como deverá ser tratado o resíduo.

Papel, vidro e alumínio são mais fáceis e mais prováveis de ser reciclados – e os dois últimos são infinitamente recicláveis -, mas quanto ao plástico, o caso muda de figura, uma vez que apenas cerca de 9% de todo o desperdício de plástico mundial é realmente reciclado. Para além disso, existem 7 tipos de plásticos, indicados nas embalagens com um triângulo com um número dentro, sendo que o número indica o tipo de plástico. Os de tipo 1 e 2 são os mais seguros e mais facilmente recicláveis.

A reciclagem é o ponto pelo qual mais se tem batalhado por Portugal e, ainda assim, continuamos a anos-luz do que realmente é possível fazer. Não há uma responsabilização significativa dos produtores, o governo não investe em taxas que motivem a diminuição da criação de embalagens de plástico e a sua reciclagem não é eficaz. Como em tudo o que envolve consumo, a mudança está nas mãos de quem compra.

 

  1. Decompõe (“Rot”)

Decompõe o resto. Faz compostagem com os teus restos de comida, cabelos, tecidos naturais, pelo de animais, rolhas de cortiça, aparas de lápis, rolos terminados de papel higiénico (cortadinhos), recibos de supermercado (igualmente cortadinhos), …

Nos aterros, por falta de oxigénio, luz e temperaturas ideais, estes resíduos demorarão cerca de 25 anos a “desfazer-se”.

Em algumas cidades começam a aparecer os primeiros contentores para orgânicos, que visam destinar esses resíduos para a compostagem industrial, mas são exemplos isolados e raros, o que torna a vida mais complicada para quem não tem espaço para ter um compostor caseiro. Procurem falar com os agricultores da zona, chateiem a câmara municipal, falem com o condomínio e criem um compostor comum. A vontade consegue mover montanhas.

 

A minha experiência pessoal:

Apesar de nunca ter tido problemas com consumo excessivo, tentei estar mais atenta e ser mais crítica em relação ao que compro desde o início deste ano. A minha atenção incide, sobretudo, no setor da roupa, do calçado e da cosmética. Se não preciso, não vou ceder à pressão dos saldos, ou ao encanto da publicidade. Se tenho, não vou comprar, e se comprar, que seja porque preciso, gosto muito e é feito de forma consciente. Se preciso, procuro, antes de mais, em segunda mão. E isto aplica-se a roupa, livros ou aparelhos eletrónicos.

Desodorizantes, cremes, champôs, amaciadores, hidratantes, … Tudo foi substituído por opções sustentáveis e artesanais quando terminaram as versões de supermercado em plástico. Até me aventurei a fazer o meu próprio sabão! O mesmo ainda não aconteceu com a maquilhagem porque ainda há muito por onde gastar e eu uso muito pouca no dia-a-dia.

Uso uma garrafa de vidro há cerca de um ano, que veio para substituir uma garrafa reutilizável grandona de plástico que começou a ficar permanentemente manchada e com um odor desagradável.

Vou às compras sempre rodeada de frasquinhos e saquinhos, e reutilizo (e lavo!) vezes e vezes sem conta os sacos de plástico para acondicionar produtos que já tinha cá em casa. Apercebi-me que usava plástico a mais no meu dia-a-dia, e apesar de alguns destes artigos ainda estarem em uso – porque seria contraproducente atirar com tudo para o lixo e desperdiçar produtos em perfeito estado – tenciono substitui-los aos poucos por opções mais duradouras.

Tenho sapatos que adoro que passam a vida a levar solas, e uns bons pares de calças de ganga com remendos entre as coxas. Como tenho problemas em gerir o meu peso, é comum parte da minha roupa fazer uma visita à costureira de vez em quando para fazer ajustes. E tudo o que se estraga cá em casa é reparado vezes sem conta até se dar como morto.

A reciclagem é prato do dia cá por casa há muitos, muitos anos. Eu sempre fui uma chata com o assunto!

Onde ainda tenho muito que trabalhar? Nalguns descartáveis, como guardanapos e lenços de papel. O ritmo rápido diário também me faz, muitas vezes, escolher produtos embalados para snacks on the go. São coisas que se resolvem com organização, tempo e disponibilidade (que eu nem sempre tenho). Não consigo fazer compostagem de resíduos orgânicos por não ter jardim e por ainda não ter investido em procurar soluções locais.

Claro que muito dos aspetos em que tenho que trabalhar se mantém como problemáticos por comodismo da minha parte, e, outras vezes, por me sentir assoberbada e não saber muito bem qual a forma mais correta de proceder perante um determinado cenário.

É muito importante recordarmo-nos que isto é uma jornada, e todo este cenário de viver uma vida mais ecológica tem muito que se lhe diga. Simplificar nem sempre é fácil! A frustração e a confusão são parte integrante do processo, mas não deverão ser motivos para se baixar os braços, nem para se desmotivar. Nesses momentos mais aflitivos devemos parar, respirar fundo e procurar uma solução que se adapte a nós e aos nossos objetivos, até porque nem tudo tem uma resposta certa.

Se fizermos qualquer coisa, por mais pequena que seja, é um passo na direção certa!