Regresso às aulas não tem que significar gastos desnecessários, nem produção de desperdício incontornável. Se simplificarmos as coisas, conseguimos resultados muito surpreendentes.

Todos sabemos que esta altura do ano é complicada em termos financeiros, principalmente para quem tem mais do que um filho em idade escolar. No entanto, se fizermos compras e escolhas ponderadas, conseguimos evitar gastos desnecessários e poupar o ambiente sem grandes dificuldades.

A reutilização deve ser ponto fulcral a ter em conta no momento de organizar o material escolar que precisamos para o ano seguinte. Bem sei que com a publicidade apelativa de que somos alvo, bem como a disposição bonitinha das prateleiras dos supermercados, nem sempre é fácil resistir a comprar coisas desnecessárias. Devemos também procurar produtos que sejam duradouros e capazes de ser utilizados vezes e vezes sem conta. Para os restantes casos, é bom ter em mente a escolha de artigos que possam ser reciclados ou compostáveis.

Intro feita, vamos às dicas?

1. Reaproveitar

Antes de nos lançarmos à caça do material novo, é importante verificar quais os artigos que conseguimos resgatar de anos anteriores e de coisas que tenhamos por casa. Não, não necessitam de estrear uma borracha novinha em folha a cada ano letivo. Sim, vamos usar esta esferográfica azul, com a tampa roída, até ao final. Claro que podemos continuar a utilizar o caderno de Ciências do ano passado do qual só usamos pouco mais do que uma dúzia de folhas. Aquela caneta azul que está ali na gaveta desde aquela ação de formação pode ir para o teu estojo. Os produtos foram feitos para se usar até ao fim! É evidente que existe uma satisfação muito particular em estrear material escolar novo, mas devemos evitar ao máximo desperdiçar artigos que ainda estão aí para as curvas.

2. Fazer uma lista de compras

Ao estipularmos previamente aquilo que realmente necessitamos, evitaremos o deslumbre de entrar numa superfície comercial e enfiar para dentro do carrinho tudo o que reluza, como se fossemos pássaros atraídos por coisas bonitas. É uma tarefa que deverá ser feita em conjunto, entre pais e filhos, e com consciência, que nos ajudará a evitar gastos supérfluos.

3. Comprar em papelarias tradicionais

Para além de apoiarem pequenos negócios, conseguem obter produtos sem embalagens de plástico que não precisamos, nas quantidades que nós queremos, e com o extra de poder receber sábios conselhos de quem se maneja no assunto há muito tempo.

4. Borrachas sem plástico

“Tenho aqui uma super borracha, mega XPTO, com laser, fita métrica e espremedor de citrinos incorporado”. É mesmo necessário tanto? Bem sei que a intenção das marcas ao criar versões deste produto com invólucro colorido, que nem armadura de Power Ranger, visa marcar pela diferença, converter-se num objeto de culto e atrair a atenção dos mais pequenos. Mas qual é a vantagem prática face uma comum borracha branca ou verde, sem plástico a mais? Nenhuma… As borrachas “miolo de pão”, por exemplo, muito usadas no mundo das artes, são uma boa escolha. Têm uma consistência semelhante a plasticina e não produzem aquelas aparas chatas que se espalham por todo o lado. Acima de tudo, é importante eleger uma borracha eficaz, que não faça crateras nas folhas em direção à Austrália, e invistam os 2 ou 3 euros que sobram no ponto a seguir.

5. Uma mochila para a vida toda

Se a mochila do ano passado não serve para usar no seguinte, há alguma coisa muito errada na escolha no momento em que foi comprada. Ao optarmos por uma mochila intemporal e de boa qualidade, ficamos com um produto que nos vai servir durante anos. Infelizmente não tive essa consciência aquando da minha vida escolar, mas fi-lo com o meu irmão, oferecendo-lhe, quando entrou para o 10.º ano (em 2012), uma Eastpak que se mantém como nova até aos dias de hoje. Não será necessário muito mais que 40-50€ para conseguir um artigo que acabará por ter um custo anual de 5€/ano, se bem estimado, cujo uso não se limita ao transporte do material escolar. As Kippling e as Jansport também são resistentes e, tal como as Eastpak, têm garantia.

6. Esferográficas sustentáveis

Esferográficas são um pilar do material escolar a partir de uma determinada idade e, por conseguinte, um dos pontos em que mais desperdício produz. E que tal eleger uma opção que nos permita produzir o menor lixo possível? É comum sentirmo-nos tentados a comprar daquelas bolsinhas que trazem 10 canetas, pretas, azuis, vermelhas e verdes, por um preço baixinho. Mas estaríamos a comprar também imenso plástico que não queremos na nossa vida. Assim sendo, sugiro que procurem uma opção recarregável/substituível. As antigas esferográficas de tinta, em que se molha a pontinha, seriam perfeitas, mas não são a opção mais prática. Há marcas que já oferecem opções nas quais apenas necessitamos substituir o cartucho. Não é a opção mais perto do zero waste, mas, a meu ver, é a melhor e mais acessível que temos ao dispor. Há também marcas que optam por ter um exterior de cartão, mas não sei se será uma boa solução a longo prazo. Outras ainda, como a Bic, apresentam opções recicladas. Uma marca da qual gosto muito e que oferece a opção de susbtituição é a Muji, uma loja japonesa de artigos diversos, com loja online e loja física na zona do Chiado. Já no que concerne a cores, um tom base (preto ou azul) e mais duas cores distintas para salientar aspetos mais importantes das anotações são mais do que suficientes. Não precisam de um arsenal intergaláctico para conseguir satisfazer as necessidades dos apontamentos mais exigentes. Palavra de professora!

Dicas express:

– sublinhadores em lápis: de materiais naturais, livres de plástico e igualmente eficazes

– régua de metal: dura uma vida

– marcadores e lápis de cor: opta por opções em caixa de cartão

– afia: de metal e sem plástico: então, não aprenderam com as borrachas?

– calculadora: há sempre excelentes opções em segunda mão

– estojo: a mesma regra que a mochila – um para a vida toda

– livros de leitura obrigatória: pede emprestado ou compra em segunda mão, não costumam variar muito de ano para ano

– material de EV: reaproveita tudo o que conseguires do ano anterior

– lápis vs. lapiseira: ponto que poderia arrastar um debate tremeeeeendo… não há uma resposta certa em relação a este aspeto, mas se o utilizador for muito propenso a partir as minas das lapiseiras, talvez o lápis seja a melhor opção

– cadernos: de materiais reciclados, preferencialmente sem plástico e sem metal

Haveria muito mais que dizer acerca deste tema, bem como muito material para discussão. Espero ter-vos ajudado de alguma forma, quanto mais não seja a repensar o modo como encaram as compras de material escolar. Qualquer dica que achem importante ou dúvida que possa esclarecer, estejam à vontade. Afinal de contas, enquanto professora, também volto à escola todos os setembros de cada ano.

Bom regresso às aulas!