A ideia de uma vida levada completamente sem desperdício parece-me utópica, daí que o meu objetivo enquanto consumidora e ser humano que pisa este planeta não seja atingir uma rotina “zero waste”, mas sim “low waste”, na medida em que tento sempre minimizar os impactos ambientais de tudo o que faço, mas plenamente consciente de que é impossível não ter qualquer tipo de impacto no ambiente. o facto de eu existir por si só já acarreta impacto ambiental, daí que não ache que faça sentido ser tão radical e aspirar ao zero.

Para além disso, há situações muito concretas do dia-a-dia em que é bastante complicado contornar a 100% o desperdício em função da evolução que tanto nos ajuda pela vida fora, como é o caso de certas medicações (e consequentes embalagens), lentes de contacto (que não consigo trocar sempre pelos óculos), entre outros.

Foi em março deste ano que decidi tomar uma atitude menos informal em relação às minhas opções ecológicas do dia-a-dia. Pela casa dos meus pais fazemos a reciclagem há muitos, muitos anos – porque eu sempre fui uma criança bem chata em relação ao ambiente e cobrava sempre tudo o que conseguia -, mas sentia que tal não era suficiente para ter um impacto significativo nos meus dias e no ambiente. Fazer qualquer coisa é muito melhor que não fazer coisa alguma, no entanto, se temos ferramentas ao nosso alcance e disponibilidade mental para fazer mais, por que não colocá-lo em prática?

Costumo dizer que os desafios financeiros são o melhor incentivo para não produzir desperdício. A minha realidade enquanto fui crescendo não permitia margem para erros nesse sentido, por isso, comida, roupa, material escolar, entre outros, nunca foram pontos críticos em relação aos quais se pudesse melhorar muito, uma vez que tudo era reaproveitado ao máximo, evitando assim que artigos bons para consumir acabassem em aterros só porque não havia mais uso para eles.

Assim sendo, o meu primeiro passo foi mudar as minhas rotinas de higiene. Comecei pelo desodorizante, que facilmente substituí por uma opção em creme, livre de produtos que agridem o ambiente, e dentro de uma latinha de alumínio reutilizável e reciclável. Em seguida substitui o champô, o gel de banho e os meus cremes diários e logo que consegui reformei os pensos e os tampões (cujo stock ainda não terminou e que vou usando muito de quando em vez), colocando em seu lugar um copo menstrual.

A escova de dentes veio mais tarde. Bem como a pasta. No entanto, ainda não estou nada satisfeita com as soluções que encontrei até então. O facto de usar aparelho ortodôntico não me facilita a vida, mas não pode ser desculpa para não fazer melhor.

Um dos ajustes mais recentes veio com o Ecoegg e a lavagem da roupa. Uma solução económica e que me compensa também noutros aspetos, uma vez que qualquer outra solução obrigaria a um maior gasto de recursos da minha parte.

Sou muito dependente de tecnologias nas minhas rotinas e no trabalho, o que produz uma pegada ecológica muito concreta pela utilização de sistemas de cloud e não só. Também necessito de recorrer regularmente a papel, canetas, entre outros, sem qualquer possibilidade de o contornar na maioria das situações. Ainda assim, opto por imprimir apenas o que é estritamente necessário, substituindo os suportes de leitura e escrita pela versão digital. Claro que no que concerne a esferográficas e papel há sempre alternativas melhores, como canetas recarregáveis e papel reciclado. Apesar de o segundo ser comum e fácil de adquirir, o primeiro não segue a mesma regra. Ainda assim, a maioria das esferográficas que uso obrigam apenas à substituição da carga da tinta.

Outras quantas coisas já fazia/usava há muito tempo sob o princípio do hábito, e sem consciência de que traria benefícios diretos ao ambiente: garrafa de água reutilizável (a minha é de vidro), andar sempre com um saquinho de pano para as compras, usar frasquinhos para guardar tudo e mais alguma coisa cá por casa, comprar alguns produtos a granel, evitar produtos descartáveis / de uso único em geral …

Apesar de tudo o que fui fazendo até então pelo ambiente, de forma consciente ou não, sinto que estou bem, bem longe daquilo que efetivamente consigo fazer por mim e pelo planeta. Algumas coisas continuarei a oferecer resistência por uns tempos por mero conforto ou comodismo, mas espero conseguir mudar. Outras não mudo por falta de meios, no entanto, tentarei tudo o que conseguir ao meu alcance para alterar essa realidade.

Acima de tudo, acho que o mais importante é irmos fazendo e irmos aprendendo com as nossas falhas, sempre conscientes de que tudo se trata de um processo de contínua evolução e onde há sempre margem para fazer melhor. Somos humanos, erramos, e isso não tem mal algum. Perigoso é quando optamos por insistir no erro ou não conseguimos reconhecer as nossas falhas. Não sejam demasiado duros convosco, dêem o exemplo sempre que possível, coloquem o vosso coração no que fazem e naquilo que acreditam e tudo acabará por se encaixar.